O folclore enquanto manifestação da individualidade do nosso povo é muito rico e deve ser objeto da nossa atenção. Temos percebido um distanciamento cada vez maior e até um certo desprezo por aquilo que faz parte das nossas raízes culturais. Até mesmo a escola, que era mais cuidadosa em relação ao repasse destas projeções culturais através da inclusão de diversas manifestações folclóricas em seus currículos, têm se rendido a cultura pop massificante do nosso tempo.
O educador cristão possui o entendimento necessário para lidar com qualquer corpo de conhecimento culturalmente construído e trazê-lo para a luz de modo a redimi-lo e restaurá-lo até que seja apresentado de modo relevante para o desenvolvimento integral da pessoa, e como neste caso - folclore, relevante para a construção e preservação da identidade do nosso povo.
Numa cosmovisão cristã sabemos que todos os aspectos significativos da vida sofreram
os efeitos da queda. Desde então tudo tende a ficar obscurecido e difuso. As
tradições certamente, em algum grau, manifestarão estes efeitos, porém, cabe a
nós restaurá-las e encontrar nelas novamente o brilho original que reflete os
valores de cada povo.
Definindo: conjunto de costumes, lendas, provérbios, manifestações artísticas em geral, preservado por um povo ou grupo populacional, por meio da tradição oral; populário.
O Folclore é parte da cultura de um povo e é um conjunto de costumes transmitidos de pai para filho e também através da comunidade, de uma geração à outra.
Assim, o folclore é um elemento muito importante da identidade de um povo, pois reflete muito da sua individualidade. Como percebemos, certamente é muito revelador da sua cosmovisão também.
A própria raiz da
palavra sugere aquilo que a cultura reflete – o objeto de culto
de um povo.
A cultura a luz de
uma cosmovisão cristã
Quando olhamos para a cultura brasileira e para o folclore como parte integrante
dela, podemos observar esta realidade. Como povo, a nossa cultura nem sempre
reflete princípios perpétuos da fé cristã. Muitas crianças(e foi assim com
muitos de nós também), crescem ouvindo lendas, parlendas, canções e outras
manifestações folclóricas que relatam acontecimentos fantasiosos envolvendo
situação onde pessoas, animais e até seres sobrenaturais agem fora de padrões
morais, de espiritualidade sadia e de verdades estabelecidas por Deus em sua
Palavra - a bíblia.
O problema é que
esta cultura popular nem sempre revela as verdades de Deus e é assim que
estamos ano após ano, geração após geração, marcando as nossas crianças desde
cedo com um imaginário fantasioso que não condiz com a realidade – numa perspectiva
bíblica.
Será que é este
tipo de ensinamento que Deus manda inculcar em nossos filhos? (Dt 6: 6-9) Será
que estes dizeres e lendas merecem ser perpetuados sem nenhum critério ou filtro?
Será que eles precisam permear o imaginário e a memória dos nossos pequeninos?
Sabemos que estas imagens mentais formarão o lastro de onde elas farão a sua
leitura de mundo a partir dele.
"Boi boi boi, boi da cara preta, leva esta menina que tem medo de
careta"."Xô bicho papão, sai de cima do telhado ..." "A
mula sem cabeça que vai pegar você no mato...".
O folclore é
revelador da identidade e originalidade do nosso povo. Temos muito a aprender
com ele. Mas, cabe ao educador cristão manter-se alerta de modo a proteger o imaginário
das nossas crianças. Protege-las de uma percepção de mundo animista e até de
feitiçaria incrustadas em muitas das nossas tradições folclóricas.
De posse do filtro
correto podemos aproveitar muito do que nosso folclore tem de melhor, seja para
as crianças ou mesmo para os nossos jovens carentes de originalidade neste
tempo de unificação cultural facilitado pela internet e alavancado pela cultura
pop.
O que devemos
transmitir aos nossos filhos então? A bíblia apresenta boas indicações nesta
direção. O salmista responde dizendo que são “... os louvores do Senhor, o seu
poder e as maravilhas que fez.” Sl 78:3-4. Esta é a base de todo o conhecimento.
Ele precisa apontar para Deus.
Cabe aqui estabelecermos um filtro para o repasse destas manifestações folclóricas às crianças no currículo de uma escola cristã, tendo em vista ainda ser hoje as escola que mais garantem esta transferência, muito mais até mesmo que através do convívio nas comunidades e nas famílias.
Vejamos algumas perguntas que devemos fazer diante de uma manifestação folclórica: Isto eleva a dignidade humana? Isto gera esperança e transformação na vida dos pequeninos? Isto é verdadeiro? Está de acordo com uma realidade mais ampla de mundo segundo a visão cristã bíblica? Isto honra a Deus?
Respostas sinceras
a algumas destas perguntas nos ajudarão a selecionar aquilo que merece ser
passado adiante para os nossos filhos/alunos/crianças. A cultura, como muito é dito hoje, não é
intocável e tem o ponto final. Ela deve ser questionada a luz de princípios e
até transformada, quando necessário. A identidade cultural deve ser mantida e
valorizada, desde que, neste bojo de caracteres essenciais, não tenhamos o
repasse de algumas ideias que afrontem a dignidade humana e ao Criador.
Deus tem sido
carinhoso em revelar o seu amor ao povo brasileiro e muitos já têm se rendido a
este amor manifestado em Jesus e buscado uma renovação de mente através da Sua
Palavra. Sem dúvidas isto trará reflexos positivos em todas as áreas, inclusive
na cultura popular e no nosso folclore. É neste ponto que a igreja cristã conta
com o apoio da escola cristã para promover esta renovação de mente em todas as
áreas da vida. A Igreja brasileira, que tanto deseja ver o Brasil transformado,
restaurado e servindo à Deus, precisa começar a trabalhar para que cultura do
país passe por mudanças também. Assim como o nosso meio-ambiente natural em
alguns lugares encontra-se degradado e necessita de ser recuperado, assim
também a cultura, como o nosso segundo meio-ambiente, igualmente necessita de
um trabalho de restauração(despoluição). Esta não é uma tarefa muito simples. É
por isto que uma escola cristã não só pode, como tem o dever de tocar a cultura
com a luz dos princípios e verdades de Deus. Sim, a escola! Não podemos esperar
só pela igreja para a renovação da nação, pois a igreja sozinha não muda a cultura
com a mesma força que a educação faz. A cultura será transformada através de
uma educação genuinamente cristã e fundamentada em princípios, onde os alunos
aprenderão a raciocinar em todas as áreas da vida com uma cosmovisão cristã.
Assim, poderemos acreditar que dentro de mais alguns anos, nós teremos muitas das nossas expressões culturais (manifestações folclóricas também) impregnadas do caráter de Deus e que revelarão grandemente Sua beleza, Sua santidade e Sua alegria e passaremos às futuras gerações uma tradição bem mais impregnada de valores e verdades de Deus. Se procurarmos diligentemente, encontraremos muita beleza na nossa identidade cultural que é digna de ser perpetuada e valorizada. Vamos nos lançar a este trabalho e sem dúvidas, isto fará uma grande diferença ao lastro moral e espiritual da nossa nação.
Veja um breve exemplo do que estamos querendo dizer:
Parlendas são
versinhos com temática infantil que são recitados em brincadeiras de crianças.
Possuem uma rima fácil e, por isso, são populares entre as crianças. Muitas
parlendas são usadas em jogos para melhorar o relacionamento entre os
participantes ou simplesmente por diversão. Algumas são muito antigas e, aparecem
em registros de muitas décadas atrás. Elas representam uma importante tradição
cultural do nosso povo. Apesar de fazer parte da nossa cultura, as
manifestações folclóricas devem ser analisadas por nós cristãos à luz da
Palavra de Deus. A bíblia não nos deixa sem direção, ela é bastante clara com
relação àquilo que não podemos encobrir aos nossos filhos, como já falamos acima.
Neste entendimento, leia e observe esta parlenda com atenção. Use a sua
capacidade de reflexão para discernir se estes versos contêm a Verdade. Eles
devem ser repassados adiante para as nossas crianças? Vale a pena perpetuar
isto sem nenhum filtro?
"Hoje é
domingo
Pede cachimbo
O cachimbo é de ouro
Bate no touro
O touro é valente
Machuca a gente
A gente é fraco
Cai no buraco
O buraco é fundo
Acabou-se o mundo". (Parlenda popular)
Ideia central: a semana já inicia (no dia do Senhor) de modo displicente, seguida de uma situação de grave acidente, que resulta em machucados, queda e morte. Cai-se num buraco sem volta e finda-se a vida para aquela pessoa. A ideia que permeia os versos é uma expectativa de fraqueza diante das adversidades, de fatalismo e desesperança total.
"Hoje é domingo
Não fume cachimbo
O cachimbo é de barro, e até faz mal
O touro é valente
mas não é tão esperto
como a gente
Se caio no buraco
Tenho força e saio
Pra o céu que é lindo
É prá lá que estou indo" (Allan César)
Nota:
Nos trabalhos relacionados ao folclore, que foram desenvolvidos com os
alunos em sala, você poderá encontrar vislumbres das marcas do caráter de Deus
começando a fazer parte de algumas manifestações folclóricas. Em um dos nossos
eventos, no dia do Festival do Folclore, momento em que todo o trabalho
desenvolvido nas classes culmina com apresentações e uma grande exposição,
tivemos uma experiência interessante: um aluno, na sua visita aos stands,
queria muito comprar um dos livros que produzimos com os alunos de uma turma
específica. Era o trabalho de recontagem de algumas lendas, após passá-las pelo
crivo da verdade. Isto comprova que os nossos pequeninos são realmente sedentos
por verdade e beleza. Ainda não foi desta vez que ele pode adquirir o seu
livro, mas vimos isto como um sinal, que em um tempo muito breve, poderemos ter
materiais deste tipo nas mãos das crianças brasileiras. Novos contos, parlendas
recontadas, novas lendas, danças e manifestações elevadas e ricas de
significado e vida.
Crédito de imagem:
http://esquizofia.com/2012/06/25/entes-do-folclore-brasileiro-o-curupira/
visualizado em 16/08/15 - capa do livro de Arievaldo Viana e desenhos de
Jô Oliveira.
Daniella Cartaxo (foi diretora de escola cristã por
21 anos, é pedagoga e especialista em alfabetização fônica e psicomotricidade)