Neste período do ano, sempre tenho o
hábito de revisitar os relatos bíblicos em torno do Natal de Jesus e
este ano, em especial, aprendi o quanto Deus foi criativo ao realizar o
Seu plano eterno de enviar o Salvador. Foi surpreendente perceber de
quantos recursos artísticos Ele se valeu para fortalecer e favorecer o
entendimento da Sua 'boa vontade' para com o homem.
Presépio pós-moderno | Todd Weber
Primeiro, criou uma expectativa de lançamento e deu vários anúncios de forma enigmática e intrigante. O messias seria da tribo de Davi, nasceria em Belém, seria concebido por uma virgem e tantos outros fragmentos de pequenas dicas espalhadas ao longo da história de Israel que por si só já seriam suficientes para instigar qualquer pessoa mais observadora. Sem dúvidas, um grande enredo estava sendo tecido.
Mas, como podia se esperar, foi na ocasião do nascimento do Seu
filho, condição esta essencial para o cumprimento do Seu plano de
salvação, que ele esbanja criatividade e expressão artística para marcar
o evento no imaginário humano de forma intensa. Ele mesmo não poderia quebrar as regras do jogo e assim era
necessário acontecer. Ele resolve destituir-se da Sua glória e tornar-se
homem e vir ao mundo como bebê, gerado num útero materno e sujeito a
todas as condições de nascimento humano. Que beleza em tudo isto! Uma
divindade que se identifica com os seus súditos ao ponto de encarná-la. Mas não para por aí. Ele usa de todos os
artifícios possíveis para marcar a sua chegada de forma singular e
criativa como somente um Deus criador seria capaz de fazer.
Aqui Ele se vale do mais fantástico de todos os gêneros literário e tece um enredo dos mais intensos, pois a história de um menino rei que nasce numa simples
estrebaria é arrebatadora e surpreendente. Não estou dizendo com isto ser a história do nascimento de Jesus um conto de fadas, estou
dizendo que, em termos de forma literária, é o mais surpreendente
dos contos que alguém poderia criar. Existe arte em volta de todo este
momento. Ele transpira beleza, sensibilidade e emoção por todos os ângulos e possibilidades dos
personagens, cenário e enredo.
Além do belo enredo desta maravilhosa
história de um menino rei que nasce como filho de uma família simples,
muito embora pertencente à linhagem do maior rei da nação, filho de uma
virgem, que por ocasião de um senso, desloca-se para a sua cidade de
origem. Nasce de forma rude e improvisada numa estrebaria no meio de animais e
é colocado em uma manjedoura. Quantos recursos para provocar o
imaginário das nossas crianças não existem aqui?! Será que isto foi à toa? Será que em
todo este cenário não existe uma grande mensagem adjascente sendo
expressa de forma sugestiva, não verbal, porém muito clara? Não está aí o
caráter do roteirista e designer manifestado e a sua mensagem expressa de maneira sublime?
Vejamos onde encontramos mais arte nesta
história: E o coro de anjos? Imagine a cena em uma noite escura e sob o
efeito de reverberação do ar gelado nas colinas. Que maravilhosa
música não foi esta! Será que aí não teríamos uma das primeiras amostras de
trazer o erudito para o povo simples? Será que a qualidade da música não
queria reforçar a mensagem? Será que existia uma intenção do diretor de arte do
musical em realçar a importância da mensagem? Sem dúvidas, foi uma peça de execução impecável, mesmo para uma plateia que
seria considera rude e muitos pensariam que não necessitaria
de tanta qualidade. Quantas lições a serem
aprendidas neste evento?
Natividade de Cristo | Ilustração do séc. VII
E o maravilhoso canto de Maria? Quanta
beleza poética e expressão nesta composição? E o cenário natural? Como não imaginar a
grande estrela no horizonte sorrindo e anunciando o seu nascimento? Como
não ser tocado pela singeleza de uma criança no meio de um estábulo
cercada de animais e feno? Que bela ideia de contrastes para reforçar a
sua mensagem não se encontra aí? Quantos presépios já não foram
produzidos? Quantas telas já não forma pintadas com estas imagens
provocantes? Será que também não existia intenção do roteirista?
Como não ser cativado pela história
paralela dos reis magos caminhando pelo deserto em seus camelos seguindo
uma coordenada anunciada por uma estrela que os conduzem da alta corte de
Herodes à simples hospedagem de um casal de nazarenos no meio de uma alvoroçada
multidão em tempos de recenseamento. E os seus presentes? E a sua
reverência? E a sua expressão de adoração? Quantas imagens e quantos
símbolos povoam mais este episódio da semana.
Natividade | Antônio Poteiro
Foi uma semana de celebração com tantos capítulos, cada um mais surpreendente que o outro, que termina com arte até na hora do cumprimento da tradicional circuncisão no oitavo dia. Ao entrar no templo aquele casal simples com uma criança em seus braços, como tantos outros da sua época, porém este menino especial foi notado pelos mais velhos presentes. Aqui o novo encontra o antigo. Nesta criança a tradição é ressignificada e testemunhada pelo idoso. O idoso não fica fora da produção da peça em cartaz e participa com arte e beleza. Ao ver a criança Simeão a toma em seus braços e improvisa um cântico. A senhora viúva também não fica de fora e faz a resenha da peça e conta a todos os detalhes de cada ato com vigor e graça.
É o Espírito agindo no meio do povo, a
expressão popular manifestada nos anseios dos mais simples insuflada
pelo agir da redenção de Deus. É o espetáculo sem verbas públicas e que
confronta a ordem natural das coisas e que provoca reflexão e
transformação. É a mensagem da graça que supera toda a estagnação do
medíocre e reverbera nos corações pelo mundo a fora e ainda ecoa neste século.
Deus fez questão de criar ricas
expressões imaginativas para promover a Sua grande mensagem. Até hoje o
Natal inspira os coros, os arranjos, as luzes, os sons, os roteiros de
teatro, os contos, os cenários e tantos outros recursos artísticos. Não
podemos perder esta riqueza imaginativa provocada pelo Natal. Ela é bela
e carrega consigo a maior de todas as verdades e a mais necessária ao
homem – a expressão do amor de Deus para com a sua criatura.
O Natal de Jesus é isto. Arte, beleza e o ápice da imaginação plástica de Deus para contar a maior de todas as histórias de amor. É um rasgo da Sua expressão de arte e beleza na história da humanidade.
O Natal de Jesus é isto. Arte, beleza e o ápice da imaginação plástica de Deus para contar a maior de todas as histórias de amor. É um rasgo da Sua expressão de arte e beleza na história da humanidade.
Simeão Louvando | Rembrandt
Assim, vamos com
muita arte, celebrar e imaginar o Natal de Jesus! Vamos encher a imaginação das
nossas crianças com estas imagens ricas de beleza e valor. Vamos contar a
verdadeira história, pois o mundo* tem contado outra história e tem
investido milhões em outro imaginário em torno do Natal.
* mundo: neste
sentido significa o sistema de crenças e valores que ordena as atitudes e
processos realizados pelo homem sob a total independência de Deus e da
Sua intervenção na vida.
Rubens Cartaxo | 25 de dezembro de 2012.
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