O Caso da Educação Cristã

O comprometimento do passado é necessário ainda hoje?
Por James K.A. Smith*  /   Tradução: Inez Borges

Historicamente, quando membros da Igreja reformada mudavam-se para uma nova localidade, eles construíam primeiramente uma igreja e, em seguida, uma escola. Nas comunidades por todo o território norte americano, de Ancaster, Ontario, até Bellflower, Califórnia, os sinos das escolas foram levantados ao lado das torres das igrejas. As famílias que se reuniam para adoração aos domingos, viam-se umas às outras durante toda a semana no local da Escola Cristã.
Seria isto apenas uma curiosa e ultrapassada peculiaridade histórica – o modelo de uma comunidade imigrante tentando esculpir pequenas colônias no desconhecido e temível mundo novo? Ou, existe uma conexão mais integral entre a fé reformada e a Educação Cristã?
Se a última afirmação for verdadeira, não seria a Educação Cristã tão importante hoje quanto ela foi nos séculos anteriores?
Cada geração necessita se reapropriar das razões da educação cristã e perguntar-se: “porque é que fazermos isso?” e, “deveríamos continuar fazendo isso?” se a resposta da geração passada não se sustenta hoje, então, talvez nós precisássemos reavaliar nosso apoio à Escola Cristã.

Porque Escolas Cristãs?
Porque as gerações passadas se comprometeram com a Educação Cristã, investindo em escolas que, tão frequentemente, demandavam tanto sacrifício?
Suas razões e motivações eram bíblicas, compreensíveis e radicais. Alicerçados na convicção de que “o temor do Senhor é o princípio da sabedoria”(Salmo. 111:10), a tradição reformada e a Igreja Cristã Reformada, em particular, tem por muito tempo reconhecido que a liderança cristã se estende sobre todas as esferas da vida, incluindo a Educação. Não existe esfera da vida que seja “neutra”. Ao contrário, nossas práticas e instituições sempre e em última instância foram moldadas por comprometimentos de fé.
Portanto, mesmo que uma instituição defenda a ideia de que é uma instituição “secular”, como se não fosse religiosa, os pensadores reformados como Abraham Kuyper e Nicholas Wolterstorff vêm além e através dessas afirmações: o que se apresenta como neutro ou secular é, de fato apenas outro compromisso de fé.

Instituto ImaDei/Parnamirim/RN - Celebração da Páscoa 2011

A visão da Educação Cristã é radical porque se fundamenta na convicção de que toda e qualquer educação está enraizada em alguma cosmovisão, ou seja, alguma constelação de crenças finais. Portanto, é importante que a educação e formação dos cristãos esteja enraizada em Cristo (Col. 2:7) – enraizada e nutrida por uma cosmovisão cristã que permeia todo o currículo.
O compromisso da escola Cristã surge e se desenvolve do senso de que confessar que “Jesus é Senhor” tem um impacto radical em como nós vemos cada aspecto da boa Criação de Deus. O currículo da escola cristã deve habilitar a criança a aprender sobre todas as coisas – de álgebra a zigotos- através das lentes da fé cristã.

O que a Educação Cristã não é?
Primeiro, a educação cristã não foi planejada para ser meramente “segura!” O fator motivador para fazer escolas cristãs não deve ser uma preocupação protecionista, dirigido  pelo medo, com o objetivo de livrar a criança do mundo grande e mau. A escola cristã não é planejada para ser uma bolha de moral ou santidade onde a criança é encorajada a enfiar a cabeça na areia. Pelo contrário, a escola cristã é chamada para ser como Aslarn nas Crônicas de Nárnia: não segura, mas boa. Em lugar de bolhas morais anticépticas, as escolas cristãs são incubadoras morais que ajudam os estudantes não apenas a ver a glória de Deus na criação, mas também a discernir e entender o estado de queda no qual esta criação caiu e no qual permanece.
Enquanto a sala de aula cristã oferece espaço para apreciar a assombrosa complexidade da Biologia Celular e a rica diversidade das culturas mundiais, ela é também um lugar para a compreensão da injustiça sistemática por trás do racismo e da pobreza macrocósmica.
Escolas cristãs não são lugares para preservar uma inocente imaturidade; elas são laboratórios para crianças que veem que nosso mundo caído está cheio de viúvas  e órfãos e estranhos aos quais nós somos chamados a acolher e amar.
Em resumo, escolas cristãs não significam a remoção para fora do mundo, elas são lentes e microscópios através dos quais nós vemos o mundo e toda a sua beleza danificada.

Segundo – as escolas cristãs não são apenas classes bíblicas. O currículo das escolas cristãs não é o currículo da escola pública somado a alguns cursos de religião. Enquanto a educação cristã não aprofunda o conhecimento do mundo de Deus, não é a classe bíblica que torna a escola cristã.
Em vez disso, a visão reformada de educação cristã enfatiza que o currículo inteiro é moldado e nutrido pela fé em Jesus Cristo, “porque por meio Dele todas as coisas foram criadas: tanto as do céu como as da terra, as visíveis e as invisíveis; sejam tronos ou poderes, governos ou autoridades; todas as coisas foram criadas por Ele e para Ele. Ele é antes de todas as coisas e Nele todas as coisas subsistem. (Col. 1:16-17). Escolas cristãs não são apenas extensão da Escola Dominical focada em aprender religião; ela são instituições educacionais, enraizadas em Cristo e focadas no aprendizado.

Terceiro – a educação Cristã não é meramente educação “privada”. Escolas cristãs não são planejadas para serem redutos da elite. Na medida em que as escolas cristãs se tornam meras escolas preparatórias, elas falham em cumprir a radical e bíblica vocação cristã para a educação.  No documento intitulado “Nosso Mundo pertence a Deus – um testemunho contemporâneo” isto é expresso na confissão de que: Na educação nós procuramos honrar ao Senhor promovendo escolas e ensinando que a luz da sua Palavra brilha em todo aprendizado onde os estudantes, em qualquer área, são tratados como pessoas que carregam em si a imagem de Deus e que tem um lugar em Seu plano. Isto nos traz de volta às características cruciais desta visão de Educação Cristã, ao mesmo tempo em que a decisão sobre a educação cristã repousa sobre a família, ela envolve toda uma comunidade.

Fazer Educação Cristã custa a “Vila” toda.
A educação cristã requer comprometimento da comunidade inteira. Para nutrir a visão, para formar os professores a para ajudar a dividir os custos e os riscos.
As comunidades cristãs reformadas têm compreendido, há muito tempo, que o compromisso com as escolas cristãs deve ser uma expressão das promessas que fazermos no batismo, ou seja, sermos “comunidade’ ou “vilas” que dão suporte à formação e educação das nossas crianças. Isso significa que, em uma tangível expressão da “Economia do Reino” (ver Atos 4:32-36), a comunidade inteira deve dividir o fardo da escola cristã.
As gerações mais velhas devem suportar as mais novas, fornecendo recursos para a Educação Cristã em gratidão pelas gerações anteriores que fizeram o mesmo.  Apenas tal economia de compartilhar o dom pode tornar possível para a educação cristã ser uma benção para todos da comunidade.
Sejamos honestos: a escola cristã é um investimento elevado, é uma aventura de trabalho intensivo. Ela requer sacrifício a escolhas difíceis. E é também, de forma crescente, contracultural perseguir tal visão. Mas, quando levada adiante no melhor espírito da tradição reformada, quando a educação cristã é um currículo intencional, intensivo e formativo, direcionado para moldar os jovens como agentes e embaixadores do Reino vindouro de Cristo, o investimento prova ser uma mordomia sábia.
Dessa forma, podemos afirmar que a Educação Cristã não é mera reminiscência do passado.  Ela efervesce da própria natureza da Igreja como uma comunidade em Aliança. É uma expressão das convicções centrais da tradição reformada. E nós podemos precisar dela agora, mais do que nunca.

Para discussão:
1. Você frequentou escola cristã ou uma escola pública quando era criança? Qual a influência duradoura que a escola exerceu em sua vida?
2. Alguns críticos dizem que a escola cristã coloca a criança em uma bolha moral e cultural. Como uma escola cristã pode ser “não segura, mas boa”, ensinando as crianças como viver sua fé no meio das complexidades do mundo real?
3. Como você entende a visão da educação cristã reformada?
4. Você concorda que a Escola Cristã “custa uma vila?” Como você ou sua Igreja contribui para a Educação Cristã das crianças?
5. O que nossas crianças necessitam agora, mais do que nunca?

* James K.A. Smith teaches philosophy and theology at Calvin College in Grand Rapids, MI, having previously taught at Loyola Marymount University in Los Angeles. He has been a visiting professor at Fuller Seminary, Reformed Theological Seminary in Orlando and Regent College in Vancouver, BC. Originally trained in philosophical theology and contemporary French philosophy, Smith's work is focused on cultural criticism informed by the Christian theological tradition. His more popular writing has also appeared in magazines such as the Christian Century, Christianity Today, First Things, Harvard Divinity Bulletin, and others. 





Texto inicialmente publicado através do site: http://www.aecep.com.br/artigos e republicado aqui na íntegra.

O que não faltar em uma boa escola?

Um bonito pé de ‘pau brasil’, planta símbolo da nossa nação;
Um mastro onde a nossa bandeira pudesse ser hasteada uma vez por semana diante dos alunos;

Uma grande e bonita ‘rosa dos ventos’ desenhada no chão da escola (ajustada ao norte geográfico, claro);
Uma ‘linha do tempo’ da história mundial(se tiver Fund. II), um linha do tempo da história do Brasil e da sua cidade; (bem apresentada, significativa e com recursos artísticos)
Alguns mapas bem grandes do mundo, do Brasil, da sua região ... pelos corredores da escola;
Um quadro com sua declaração de missão, valores e propósito; fotos das pessoas que fazem a escola ... fotos históricas ... do que aconteceu ali;
Muitas plantas ... muitas plantas e se possível ... um jardim;
Obras de arte ... por todos os lados ... beleza ... poesia e cores;
Muitos livros ... muitos quadros ... muitas frases ...Um lugar pra lanchar limpo, organizado e sem estresse;
Banquinhos para sentar e conversar;
Um bebedouro sempre limpo e com água geladinha;
Um grande espelho no banheiro das meninas;
Um lugar para jogar bola ...
E para se tornar quase ‘um sonho de escola’, uma alegre diretora que no portão recebesse as crianças com alegria e as abençoasse na saída (ou pelo menos um porteiro alegre e feliz que cumprimente a todos com educação);


Obs.: Claro que existem muitas outras coisas que não deveriam faltar em uma boa escola, mas neste momento quis apenas trazer a mente coisas menos convencionais, para aqueles que ainda pensam que escola boa é aquela que tem uma sala climatizada com um quadro branco e carteiras modernas. Sem falar no clima da instituição, sua proposta, currículos, métodos etc. Estes seriam itens para outra lista.

Para pensar ... Onde estamos e para onde queremos ir?

Horace Mann é geralmente considerado o pai da educação moderna, pois foi ele que trabalhou ativamente em sua posição de secretário do Conselho de Educação, em Massachusetts, nos anos de 1830 e 1840 a fim de organizar um sistema escolar centralizado e controlado pelo Estado, com recursos oriundos dos impostos sobre a propriedade privada. Mann foi, porém, influenciado principalmente pelas ideias do reformador social britânico, Robert Owen. Owen escreveu extensamente sobre a transformação da sociedade, a fim de libertá-la do que considerava a influência restritiva da religião. O que segue é uma amostra de suas ideias, escrita por Owen no Free Enquirer de 4 de agosto de 1832:

"Você pergunta onde ponho a minha fé, se as responsabilidades religiosas forem aniquiladas? Na bondade humana. Você pergunta o que proponho como substituto para a religião? Cultivar as nobres faculdades da mente humana...
Devemos ensinar integridade às crianças e teremos homens e mulheres honestos... Devemos transmitir fatos a elas em lugar da espiritualidade, bons hábitos em vez de longos sermões, as verdades da ciência e não os mistérios dos credos, a bondade em lugar do medo e a liberalidade substituindo a intolerância... Eu não criaria preconceitos numa criança contra qualquer religião nem a favor. Simplesmente não falaria sobre o assunto. Ela deveria aprender primeiro o que pode ver e compreender: seu julgamento deveria ser cuidadosamente amadurecido e seus poderes de raciocínio diligentemente cultivados."

Acho que o sistema educacional brasileiro seguiu bem direitinho esta cartilha, não é mesmo? Veja onde chegamos. Esta charge representa muito bem o espírito da BNCC. (parece até sigla de banco, mas não é, trata-se da Base Nacional Comum Curricular)





Do livro: Reinos em Guerras - Bill Bright e Ron Jenson, Ed. Candeia, 1993. (pág.168)

E o nosso folclore?

O folclore enquanto manifestação da individualidade do nosso povo é muito rico e deve ser objeto da nossa atenção. Temos percebido um distan...