Estas são palavras
muito comuns no contexto educacional. A primeira é sempre muito almejada como o
propósito final para a educação, pelo menos como é geralmente prescrito na
maioria dos documentos de planejamento de ensino dos sistemas educacionais e
das escolas. Cabe a pergunta: Transformar o quê? Qual a forma que se deseja
chegar? De antemão, já podemos perceber que, com base no paradigma atual, fica
muito difícil se estabelecer uma resposta segura para estas perguntas, pois, nesta
base atual, não temos referenciais claros e muito menos uma verdade a ser
buscada.
Mas, deixando estas considerações ideológicas de lado, percebemos
que ambos os verbos carregam a palavra ‘formar’. O que estamos formando? ou
enformando? (no sentido de dar forma, assim como se coloca a massa de um bolo
ainda líquida em uma fôrma
para assar e quando assado, este toma forma da vasilha).
Dizemos que a escola forma cidadãos. Falamos que vamos a uma
‘formatura’ e até dizemos que vamos nos ‘formar’ em alguma profissão no final
de um curso. Qual a ‘fôrma’ foi usada no neste processo de formação(no sentido
de currículo)? Ou ainda, que forma estamos assumindo (estamos ficando parecidos
com o quê)? No que estamos nos transformando?
Para ampliarmos nossa reflexão, vamos definir algumas destas
palavras envolvidas e iluminá-las com algumas porções da Palavra de modo a construirmos
uma ideia guia capaz de nos conduzir melhor pela busca de uma autêntica
transformação ao longo do processo educacional. Afinal, precisamos verificar de perto em qual destes dois
processos a escola cristã deverá estar mais comprometida, se em apenas formar
ou se é capaz de fato transformar.
Forma: lat. forma,ae
'aparência, semelhança, imagem, fôrma etc.' configuração, feição, feitio,
figura, formato; ver tb. sinonímia de aspecto. configuração física
característica dos seres e das coisas, como decorrência da estruturação das
suas partes; formato, feitio. 3 a aparência física de um ser ou de uma coisa
Fôrma: peça oca em que se
põe uma substância fluida que, ao endurecer, adquire o formato dessa peça;
molde; recipiente côncavo que se usa para dar forma a preparações culinárias. Exs.:
f. de bolo; f. de pudim, f. de queijo. 3 molde de madeira semelhante ao pé, usado
na fabricação de calçados. (HOUAISS,
2009)
Transformação: lat.
transformatìo,ónis 'transformação, metamorfose'. ato ou efeito de
transformar(-se).
Transformar: 1. Para mudar a
forma de; mudar a forma ou aparência; metamorfosear; como uma lagarta
transformada em uma borboleta.
2. Para mudar de uma substância para
outra; para transmutar. Os alquimistas procuraram transformar o chumbo em ouro.
3. Na teologia, mudar a disposição
natural e o temperamento do homem de um estado de inimizade para com Deus e sua
lei, na imagem de Deus, ou em uma disposição e temperamento conforme(sujeito) à
vontade de Deus. Seja transformado pela renovação de sua mente. Romanos 12:
2. (WEBSTER, 1828)
“E não sede conformados com
este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento,
para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus”.
(Romanos 12:2)
“Mas todos nós, com rosto
descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos
transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do
Senhor”. (2 Coríntios 3:18)
“(...) até que todos alcancemos a
unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, e cheguemos à maturidade, atingindo
a medida da plenitude de Cristo. O propósito é que não sejamos mais como
crianças, levados de um lado para outro pelas ondas, nem jogados para cá e para
lá por todo vento de doutrina e pela astúcia e esperteza de homens que induzem
ao erro. Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça,
Cristo”. (Efésios 4:13-15)
“Tende cuidado, para que ninguém
vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição
dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo”. (Colossenses
2:8)
Podemos perceber que transformar aponta para uma força
localizada no interior e que de dentro para fora gera a sua aparência exterior
ou neste contexto, a sua nova forma. Ao contrário, a palavra conformar denota
uma ação mais passiva de onde uma força externa é que determina esta
formatação.
Aplicando estas duas ideias ao contexto educacional,
percebemos que uma proposta transformadora precisa começar com o coração.
Precisa acontecer mudanças no interior que gere uma força de dentro para fora
capaz de forçar e deslocar as estruturas já postas. Numa perspectiva cristã é o
que chamamos de renovação de mente. A maneira de pensar é renovada pelo
alinhamento do pensar pela revelação da Palavra e da ação do Espírito no
coração do homem.
Formar(ou enformar)
tem a conotação de uma pressão exercida de fora para dentro. Uma maneira de
pensar e entender a vida da sociedade é que faz esta pressão e forma(ou modela)
a mentalidade dos seus futuros cidadãos. Não só a escola, mas também a mídia,
as diversas instituições, entre elas também a família, contribuem para esta
somatória de forças externas que resultam nesta formação (daquilo que é
aparente ou manifesto).
Nesta perspectiva, a educação cristã é alicerçada num
processo que chamamos de transformação. Para sairmos de um lugar e chegarmos a
outro faz-se necessário o exercício de uma força. Para deixarmos uma forma e
assumirmos outra, igualmente faz-se necessária a atuação de forças. Duas
questões nos são apresentadas para compreendermos melhor este processo: de onde
mobilizaremos esta força e em qual sentido ele atuará. A resposta a estas duas
perguntas mostrará a diferença entre ‘formação’ e ‘transformação’.
O primeiro passo é entendermos que o ser humano precisa ser
moldado. Ele não pode ser entregue a si mesmo, pois se deixado sem cuidados,
logo se transformará em um ser obtuso e rude. A inclinação natural do coração
humano é má. A força para esta modelagem não pode ser aplicada de fora para
dentro, pois não seria eficaz em formar um homem completo. Poderá, no máximo,
oferecer uma aparência agradável, uma pessoa educada e capacitada para o
exercício de uma função, mas no uso se mostrará fraca no caráter e na sua força
interior para a virtude.
Uma transformação de fato precisa vir do interior, pois ela
não se baseia nos valores reinantes do presente século, pois o oxigênio que a
mantêm (ou deveria manter) viva vem do Reino de Deus e está para além de
qualquer que seja o sistema econômico, político e de governo.
Jehle afirma que “a prioridade da nossa transformação é o
nosso ser mais íntimo, o espírito, e então para fora, por meio do corpo. É no
nosso espírito onde tudo começa” (JEHLE, 2015. Pág. 135).
A educação cristã é orientada ao interior, a mudar o coração
que é a sede do espírito/alma humano. Com a mente transformada, a maneira de
pensar é transformada e tem-se então, atitudes transformadoras e ações de
transformação e não de conformação. É como se colocássemos a cabeça para fora de
um ambiente poluído e respirássemos um ar novo e puro que nos traz vida.
Somente esta força interior é capaz de gerar possibilidades
de mudanças reais e experimentarmos transformação na direção do mais elevado e
mais virtuoso, que abençoa e dignifica em mais alto grau a ‘humanidade’ do
homem. Do contrário, de modo passivo e sem mudanças no interior (no coração) o
que nos resta é esperar que o meio (a cultura local, a mídia, os costumes, a
condição econômica e social, a religião, etc) modele a forma de pensar e
reproduza com esta fôrma externa muitos outros indivíduos réplicas fiéis, sem
nenhuma possibilidade de mudança considerável, apenas manutenção ou degradação
do estado atual para pior.
A abordagem educacional por princípios é uma abordagem
reflexiva e que busca prioritariamente orientar o aprendizado sempre iniciando
pela reflexão da causa para o efeito, raciocinando a partir de princípios, de
modo a permitir a renovação da mente para compreensão, seja de conceitos,
fatos, leis, sistemas, arranjos e processos de modo a aplica-los e
(re)significa-los a medida em que são aplicados ao contexto trazendo
compreensão, competências, soluções e realizações significativas e
transformadoras da realidade que, geralmente tende a degeneração pelos efeitos
da queda.
Assim, temos uma recomendação muito clara e que responde muito
bem as indagações iniciais: formar ou transformar? O que vamos transformar?
Como se dará uma transformação autêntica?
Não se amoldem ao padrão deste
mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes
de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.
Romanos 12:2 (NVI)
E também temos um referencial bem objetivo a ser alcançado
com a transformação, “a boa, perfeita e agradável vontade de Deus”, que é
sermos segundo a imagem do Seu filho, que poderá ser experimentada mediante este
processo de transformação pela renovação da mente.
“A quem anunciamos, admoestando a
todo o homem, e ensinando a todo o homem em toda a sabedoria; para que
apresentemos todo o homem perfeito em Jesus Cristo” e ainda: “Em quem estão
escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência”. (Cl 1:28 / 2:3)
Somente com a ação do Espírito Santo numa mente restaurada
pode ser capaz de suplantar o status quo e fazê-la pensar e agir para além do
paradigma proposto, esta ‘linha de montagem’ já pré-determinada do presente
século, e de outros falsos mundos que ainda surgirão. Somente uma mente
renovada, oxigenada pelo Espírito Santo e vivificada através da comunhão com o Pai
de todo o conhecimento e sabedoria é capaz de transformar as estruturas de
impiedade pré-estabelecidas nos dias atuais. Cremos nisto!!
JEHLE, Paul. Ensino e Aprendizagem: uma abordagem filosófica
cristã. Belo Horizonte: Aecep, 2015.
HOUAISS,
Antônio. Dicionário da Língua Portuguesa. São Paulo: Editora Objetiva, 2009.
(versão digital)
WEBSTER, Noah. Dictionary. Americal Dictionary of the
English Language. Webster's Dictionary 1828 - Online Edition. Acesso em
22/01/2018.
http://webstersdictionary1828.com/